Benefícios e riscos da atividade física para diabéticos

Fonte: Site Gease

Como vimos anteriormente (Diabetes 1 e 2), os exercícios podem oferecer inúmeros benefícios para os portadores de diabetes, porém é necessário que se conheçam os possíveis riscos que um programa de treinamento pode trazer diante desta patologia.

Introdução

Sugere-se que para ocorrência da diabete deve haver uma interação entre predisposição genética e fatores ambientais (SILVEIRA NETO; 2000), dos quais pode-se destacar: obesidade (particularmente a deposição de gordura intra-abdominal), inatividade física e idade avançada. A obesidade diminui o número de receptores insulínicos nas células-alvo em todo o corpo, fazendo com que a quantidade de hormônio disponível seja menos eficaz na promoção de seus efeitos metabólicos (GUYTON & HALL, 1997; FRONTERA, DAWSON & SLOVIK, 1999; SILVEIRA NETO, 2000). Mal-hábitos também podem ser perigosos, a hiperfagia por si só, é responsável por alguns níveis de resistência à insulina, como se pode comprovar pelo declínio nos níveis de glicose plasmática ocorrido em diabéticos do tipo 2 que se submetem a uma dieta de restrição calórica (SILVEIRA NETO; 2000).

Na diabete melito, a maioria das características patológicas pode ser atribuída a um dos três efeitos principais da falta de insulina, a saber: (1) menor utilização de glicose pelas células corporais com conseqüente aumento da concentração sanguínea de glicose; (2) depleção de proteínas nos tecidos corporais; e (3) aumento acentuado da mobilização de gordura das áreas de armazenamento, produzindo metabolismo lipídico anormal e também o depósito de gorduras nas paredes vasculares (GUYTON & HALL, 1997).

Complicações

A principal morbidade da diabete relaciona-se às complicações em longo prazo da hiperglicemia crônica. Estas possíveis complicações podem ser divididas em:

complicações microvasculares como retinopatia (perda potencial da visão), falência renal (nefropatia), dano aos nervos periféricos (neuropatia), e danos ao sistema nervoso autonômico (neuropatia autonômica) e;
complicações macrovasculares como doenças cardiovasculares ateroscleróticas, vascular periférica e cerebrovascular, além de constantemente estarem associadas a outros fatores de risco ateroescleróticos mesmo em indivíduos não diabéticos como hipertensão arterial, hiperlipdemia, obesidade e resistência à insulina (FRONTERA, DAWSON & SLOVIK, 1999).
Segundo SILVEIRA NETO, os principais fatores de risco para o desenvolvimento de complicações macrovasculares e microvasculares são a hipertensão, a hiperlipidemia, a hiperglicemia, o sedentarismo e o tabagismo. Em todos estes fatores o professor de educação física pode interagir direta e/ou indiretamente através da mudança de comportamento de seu aluno, usando a atividade física como instrumento.

Benefícios da atividade física

Desde 1922 vários autores verificaram a interação da insulina com a atividade física e os benefícios no tratamento da diabete. A partir de então a tríade dieta, medicamentos (quando necessário), e exercício, fundamentados em um processo educacional, formam o princípio do tratamento desta doença (SILVEIRA NETO, 2000).

Certamente os exercícios são a parte mais divertida da terapia da diabete. Pense no quão "divertido" é espetar a si mesmo com uma agulha ou uma lanceta, tomar pílulas, ou ter que mudar sua dieta, provavelmente suprimindo algumas das suas comidas favoritas. Compare isto com um, igualmente importante para sua saúde, jogo de tênis, uma noite dançante, um passeio de bicicleta, uma caminhada, ou uma refrescante natação e verá que não há discussão. Toda e qualquer atividade física pode ser de grande valia para o diabético, sendo necessário sempre se levar em consideração o atual quadro de saúde em que o indivíduo se encontra.

Vários estudos têm demonstrado que a prática de exercício pode aumentar a ação da insulina ou diminuir a resistência à insulina, especialmente entre pessoas com alto risco para diabete ou com hiperinsulinemia. Outros estudos mostram que indivíduos fisicamente ativos têm menos probabilidade de desenvolver diabete do que indivíduos fisicamente inativos. O efeito da atividade física parece ser devido à adaptação metabólica do músculo esquelético (aumento da densidade capilar; maior capacidade oxitativa), ou a outras adaptações ao treinamento como um conteúdo aumentado de transportadores de glicose GLUT4 (FRONTERA, DAWSON & SLOVIK; 1999). Como conseqüência, a captação de glicose pelo músculo é incrementada, independentemente de alterações na concentração de insulina circulante (SILVEIRA NETO; 2000).

Em adição à redução aguda da glicemia e ao aumento da sensibilidade à insulina, o exercício regular atenua vários fatores de risco reconhecidos de doenças cardiovasculares, como melhora do perfil lipídico (diminuição do LDL, aumento do HDL e diminuição do triglicérides) e da hipertensão (FRONTERA, DAWSON SLOVIK; 1999); (CANCELLIÉRI 1999). A hipertensão está associada com um aumento da incidência e taxa de progressão de retinopatia diabética e neuropatia devendo, portanto, ser tratada de forma mais agressiva. É genericamente aconselhável que os pacientes que apresentem doenças microvasculares dos olhos e rins já estabelecidas, não participem de exercícios que resultem em um aumento da pressão sistólica acima de 180 a 200 mmhg (SILVEIRA NETO; 2000).

Os benefícios cardiovasculares e metabólicos do exercício são sustentados somente como resultado da soma dos efeitos das sessões de treinamento ou como resultado de mudanças, em longo prazo, na composição corporal (SILVEIRA NETO; 2000). Tais mudanças são extremamente importantes uma vez que aproximadamente 60% das pessoas com diabetes do tipo 2 são obesas no momento do diagnóstico, sendo a distribuição central de gordura um fator de risco primário adicional para o desenvolvimento do diabete tipo 2 (FRONTERA, DAWSON & SLOVIK; 1999).

SILVEIRA NETO trata em sua obra do constante estresse psicológico pelo qual os recém descobertos diabéticos passam, e cita até mesmo como experiência pessoal (o autor descobriu aos 14 anos que é diabético tipo 1) o quanto a atividade física pode ser benéfica para o controle desde tipo de estresse, o qual pode ter conseqüências bastante negativas para o controle glicêmico. Parece que o estresse psicossocial exerce um efeito psicossomático direto nos mecanismos reguladores neuroendócrinos que, por sua vez, influenciam o controle metabólico.

Riscos da atividade física

Apesar dos diversos benefícios, o exercício também pode agravar algumas complicações de longo prazo da diabete. Em adultos, o exercício pode precipitar angina de peito, infarto do miocárdio, arritmias cardíacas ou morte súbita, se houver doença arterial coronariana subjacente. Para aumentar a segurança, deve ser feita uma triagem cuidadosa em adultos para as complicações em longo prazo da diabete (retinopatia, nefropatia, neuropatia periférica, neuropatia autonômica), antes de se iniciar um programa de exercício de intensidade moderada a vigorosa (FRONTERA, DAWSON & SLOVIK; 1999).

A atividade também deve levar em consideração o estado do aluno no momento de seu início. Diante de um quadro de glicemia superior a 250 mg/dl, por exemplo, sugere-se a medição de cetona na urina (FRONTERA, DAWSON & SLOVIK; 1999), pois o quadro de cetonúria é potencialmente perigoso para o diabético e o exercício acentuará este quadro. Esta situação indica pouca insulina no organismo, com conseqüente diminuição da utilização de glicose como fonte de energia e incremento do metabolismo das gorduras, acarretando elevação dos lipídios e de seus subprodutos no sangue (CANCELLIÉRI 1999). Este exemplo é relativamente comum e com ele se percebe a importância de um controle glicêmico constante, que pode ser feito de maneira relativamente fácil através de um glicosímetro. Através deste recurso o diabético pode fazer o exame de sua glicemia a qualquer momento sem qualquer dificuldade, sendo os resultados bastante precisos e confiáveis. Lembre-se que sem um controle adequado da glicemia, o diabético fatalmente tenderá a evoluir para as temíveis complicações crônicas da doença (SILVEIRA NETO; 2000).

O exercício agudo provoca um aumento da sensibilidade à insulina e aumento no metabolismo da glicose, que persiste por várias horas após seu término, podendo ocorrer assim hipoglicemia. De outro lado, o exercício de curta duração e grande intensidade está normalmente associado com um aumento transitório nos níveis de glicemia, podendo gerar um quadro de hiperglicemia (FRONTERA, DAWSON & SLOVIK; 1999). Quanto suficientemente grave, a hiperglicemia pode produzir lesão imediata e irreversível no sistema nervoso central. O estado de hipoglicemia severa também é potencialmente perigoso para o indivíduo, uma vez que glicose é o único nutriente capaz de ser utilizado pelo cérebro, pela retina e pelo epitélio germinativo das gônadas (SILVEIRA NETO; 2000).

Outros fatores que devem ser levados em conta são as lesões das articulações e dos tecidos moles, as quais podem ocorrer quando os pacientes com neuropatia periférica realizam exercícios vigorosos (FRONTERA, DAWSON & SLOVIK; 1999).

Além disso, há um agravante de grande parte dos diabéticos não saberem que carregam a enfermidade. Ás vezes a doença pode não apresentar sintomas e continuar evoluindo sem que se dê conta disto, e a diabete só será diagnosticada quando as complicações crônicas já se houverem estalado (SILVEIRA NETO; 2000).

Desta forma, vemos que os exercícios físicos são de extrema importância para o diabético, porém devem ser elaborados por um profissional competente e consciente de seus riscos e limitações, além de serem constante e responsavelmente controlada.

Referências bibliográficas

GRAHAM, Cláudia; the diabetes sports and exercise book, 1995.
GUYTON, Artur c. & HALL, John e; fisiologia humana e mecanismo das doenças 557:564, 1997.
FRONTERA, Walter R., DAWSON David M. & SLOVIK; exercício físico e reabilitação 157:158; 202:214, 1999.
CANCELLIÉRI, Cláudio; diabetes & atividade física 1999.
SILVEIRA NETO, Eduardo; atividade física para diabéticos 2000.
Guia completo sobre diabetes da american diabetes association 2002

Por Vandeir Gonçalves